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A filosofia de Marx tornou-se uma clássica introdução à obra de Karl Marx desde a primeira tiragem, há três décadas. Se seu objetivo inicial era familiarizar os alunos de ciências humanas com conceitos complexos, sua importância hoje deve-se mais do que à clareza como obra introdutória; a colocação do problema da filosofia em Marx em seu contexto histórico e teórico vai além, avançando para renovadas perspectivas de leitura.
Étienne Balibar, expoente do círculo althusseriano e autor de livros fundamentais como Sobre a ditadura do proletariado e Cinco estudos do materialismo histórico, empreende aqui uma inflexão para pensar a filosofia em Marx, como se num exercício para averiguar o que ainda seria válido no universo intelectual marxiano.
O resultado da busca desses dois objetivos – por um lado, tornar acessíveis temas e problemas filosóficos que foram tratados por Marx ou que podem ser colocados a partir de sua obra; e, por outro, propor a avaliação do seu legado na esteira da queda do bloco socialista – é um texto rico em referências e abordagens originais.
Esta nova edição, revista e ampliada, inclui um novo prefácio com o balanço da tradição a que se filia Balibar e um novo ensaio final em que o foco é na VI Tese sobre Feuerbach.
Étienne Balibar (1942) é filósofo, professor emérito da Universidade de Paris-X-Nanterre e professor da Universidade da Califórnia. É autor, entre outros, de Spinoza et la Politique, Les Frontières de la démocratie, Lieux et Noms de la vérité, La Crainte des masses e Droit de Cité. No Brasil, a Boitempo lançou Raça, nação, classe: as identidades ambíguas, livro escrito em parceria com Immanuel Wallerstein. A Da Vinci prepara a publicação de duas de suas obras mais importantes, escritas nos anos 1970, Sobre a ditadura do proletariado e Cinco estudos do materialismo histórico.
Do prefácio de Alysson Leandro Mascaro.
"Tanto as obras iniciais de Balibar como A filosofia de Marx operaram a contrapelo de seus tempos históricos. Mas, enquanto Cinco estudos do materialismo histórico e Sobre a ditadura do proletariado buscavam uma intervenção filosófica e política direta num movimento comunista francês e internacional relativamente pujante – que, embora bastante alheio a uma transição socialista efetiva, ainda assim era administrador de Estados como o soviético e tinha chances de ganhar eleições em países como a Itália –, A filosofia de Marx trabalha com os escombros desse contexto. O fim da URSS acarretou o refluxo das lutas socialistas pelo mundo, de tal sorte que o marxismo foi rechaçado tanto do contexto político como da universidade e da intelectualidade.
Seguindo a esteira do projeto de Althusser, os primeiros livros de Balibar trabalhavam para realizar uma grande intervenção na luta socialista e na teoria marxista, corrigindo suas tendências reformistas, liberais, humanistas ou vagamente ontológico-existenciais. Esperava-se, com isso, uma retomada de fôlego dos propósitos originais do marxismo: ciência e revolução.
A filosofia de Marx também opera contra correntes majoritárias de seu tempo. Mas estas, por sua vez, agora são outras. Não se trata de corrigir um processo de lutas e teorias equivocadas, mas sim de enfrentar aquilo que já se tem por morto. Para tanto, de modo bastante contrário ao senso comum, Balibar afirma: se as experiências práticas soviéticas ou ditas de 'socialismo real' chegaram ao seu estertor, o marxismo estava vivo no âmbito de sua filosofia. E não é só uma filosofia viva, mas, acima disso, é cada vez mais importante. Nas palavras do próprio autor, 'a importância de Marx para a filosofia é maior que nunca'."