Tentações de cristo - o demônio pode não ser autêntico

As respostas negativas de Jesus ao demônio no deserto sempre foram interpretadas como vitória de Jesus sobre o demônio. Essa interpretação, contudo, empobrece o texto e impede uma reflexão mais profunda e de maior relevância para nossas vidas. Mais do que um não ao maligno, o texto traz à tona a opção de Jesus por um Reino de virtudes e uma ética totalmente nova no uso dos poderes e dons de Deus. O relato sobre as tentações mostra a luta de Jesus para vencer o modo de ser do homem no uso dos bens e dons que lhe são dados e a opção por um reino de fraternidade e serviço aos irmãos em vez do messianismo ufanista desejado pelos judeus. O texto das tentações nos remete à conversa de Jesus com Nicodemos: “É preciso nascer de novo, nascer do alto, para entrar no reino dos céus”. Por ter feito esse caminho antes de começar sua vida pública, Jesus, o mais extraordinário de todos os homens, se tornou caminho, verdade e vida. Mais importante do que a vitória do Mestre sobre o demônio, que na realidade não houve porque este nunca foi dominado, está a vitória sobre a própria natureza humana da qual Jesus emerge como crisálida renovada. Acompanhar estas reflexões do prof. Müller é dar um mergulho na condição humana e aprender de Jesus como devemos usar os dons que recebemos, dentro dos propósitos a que nos foram conferidos. Mais importante do que a alteridade do demônio que alicia com ofertas tentadoras, é a imanência do mal na natureza humana, que procura tirar proveito dos dons e oportunidades para criar felicidades ilusórias. Nesse relato, Jesus propõe uma ética inteiramente nova para os seus seguidores. Todos os cristãos, não apenas os católicos, têm muito a ganhar com a instigante leitura deste livro.